Estava sentado nos degraus frente à porta da minha casa. Olhei em volta. Voltei a olhar. A minha casa estava como que plantada no meio de um deserto. Não. Fechei os olhos, abanei a cabeça e abri-os novamente. Repeti este procedimento duas, três, quatro, cinco, nem sei quantas vezes, perdi-lhes a conta. A minha casa estava rodeada de areia, por todos os lados. Onde estavam os prédios altos? Estava eu metido numa caixa mágica a padecer de alucinações? A demência estava a tomar conta demim? Onde estava eu? O que era sonho? O que era realidade?
Enterrei a cabeça sobre os joelhos, deixei-me estar ali por um bom bocado. Não tinha coragem de me levantar e a porta atrás demim continuava fechada. Desenterrei a cabeça com os olhos ainda fechados e encostei a cabeça à porta. Olhei para cima. O sol brilhava forte sobre mim. O céu era violeta. Nunca tinha visto algo assim. Totalmente violeta. Pleno de uma luz forte, não agressiva, de uma natureza doce até. Fiquei com os olhos pregados ao céu, maravilhado. Que mais me aguardaria o olhar? Baixei os olhos. Era inacreditável. Á minha frente seguia um trilho verdejante. Uma espécie de tapete de relva, ladeado por ziliões de grãos de areia. Seria por ali que eu deveria seguir. Olhei para o fundo e se fim existia, não o conseguia avistar. Contudo, ao longe um ponto se movimentava em minha direcção. Vinha a um ritmo calmo e coordenado e, pouco a pouco, me fui apercebendo de um suave bater de asas. Aproximava-se mais e mais. Até que avistei aquilo que eu reconhecia por uma coruja. Enorme, cada vez maior à medida que se aproximava demim.
Intuitivamente estendi o braço e ela pousou em mim, elegantemente. Ficámos face a face. O que senti foi algo tão forte, tão intenso, tão precrustrador. Os olhos dela pregados em mim, fixos, profundos, perspicazes. Senti-me lido. Despido. Sem qualquer defesas, sem qualquer sentimento ou necessidade de alerta.
De um momento para o outro ela levantou voo e foi pousar no portão de ferro da minha casa, numa posição intermédia entre mim e o tapete verde, que se estendia à minha frente. A cabeça dela parecia rodar sobre ela mesma, olhando tudo à sua volta e parando os seus olhos escuros, de quando em quando , sobre mim. Parecia inquieta, ansiosa. Levantei-me. Puz uma alça da mochila sobre o ombro e desci lentamente as escadas. Cheguei ao portão de ferro forjado e abri-o com facilidade. Isto surgiu-se-me estranho. Aquele portão exigira sempre da minha parte alguma insistência e estava há muito empenado. Passei para o lado de lá e fechei-o com cuidado. Olhei para ela. Lá estava ela imperturbável, olhando para mim. Dei meia volta sobre mim e fiquei de frente, para o caminho que me aguardava. Dei uma passada, duas passadas a medo. E ela, sem quase eu sentir, pousou-me no ombro vazio. Era estranho como um ser tão imponente e de dimensões tão largas, não me pesava no corpo.
Com ela num ombro, com a alça da mochila noutro, segui caminho.
Enterrei a cabeça sobre os joelhos, deixei-me estar ali por um bom bocado. Não tinha coragem de me levantar e a porta atrás demim continuava fechada. Desenterrei a cabeça com os olhos ainda fechados e encostei a cabeça à porta. Olhei para cima. O sol brilhava forte sobre mim. O céu era violeta. Nunca tinha visto algo assim. Totalmente violeta. Pleno de uma luz forte, não agressiva, de uma natureza doce até. Fiquei com os olhos pregados ao céu, maravilhado. Que mais me aguardaria o olhar? Baixei os olhos. Era inacreditável. Á minha frente seguia um trilho verdejante. Uma espécie de tapete de relva, ladeado por ziliões de grãos de areia. Seria por ali que eu deveria seguir. Olhei para o fundo e se fim existia, não o conseguia avistar. Contudo, ao longe um ponto se movimentava em minha direcção. Vinha a um ritmo calmo e coordenado e, pouco a pouco, me fui apercebendo de um suave bater de asas. Aproximava-se mais e mais. Até que avistei aquilo que eu reconhecia por uma coruja. Enorme, cada vez maior à medida que se aproximava demim.
Intuitivamente estendi o braço e ela pousou em mim, elegantemente. Ficámos face a face. O que senti foi algo tão forte, tão intenso, tão precrustrador. Os olhos dela pregados em mim, fixos, profundos, perspicazes. Senti-me lido. Despido. Sem qualquer defesas, sem qualquer sentimento ou necessidade de alerta.
De um momento para o outro ela levantou voo e foi pousar no portão de ferro da minha casa, numa posição intermédia entre mim e o tapete verde, que se estendia à minha frente. A cabeça dela parecia rodar sobre ela mesma, olhando tudo à sua volta e parando os seus olhos escuros, de quando em quando , sobre mim. Parecia inquieta, ansiosa. Levantei-me. Puz uma alça da mochila sobre o ombro e desci lentamente as escadas. Cheguei ao portão de ferro forjado e abri-o com facilidade. Isto surgiu-se-me estranho. Aquele portão exigira sempre da minha parte alguma insistência e estava há muito empenado. Passei para o lado de lá e fechei-o com cuidado. Olhei para ela. Lá estava ela imperturbável, olhando para mim. Dei meia volta sobre mim e fiquei de frente, para o caminho que me aguardava. Dei uma passada, duas passadas a medo. E ela, sem quase eu sentir, pousou-me no ombro vazio. Era estranho como um ser tão imponente e de dimensões tão largas, não me pesava no corpo.
Com ela num ombro, com a alça da mochila noutro, segui caminho.